Descobertas sete mini-rãs que vivem em “ilhas celestes” no Brasil
- Reprodução
- 19 de out. de 2015
- 2 min de leitura
Frágeis, mínimas e raras. Estas são três características de sete novas rãs, com pouco mais de um centímetro de comprimento, descobertas a viver em florestas de montanha, junto ao oceano Atlântico, no Sul do Brasil. O artigo com a descrição destas espécies foi publicado nesta sexta-feira, na revista científica online, de acesso livre, PeerJ.
Por serem tão pequeninos e dependerem de um ambiente muito específico – regiões de altitude nestas florestas muito húmidas, com nevoeiro e nuvens –, estes anfíbios vivem isolados em “ilhas celestes”, e não conseguem viajar de uma montanha para a outra. Por isso, muitas vezes, uma espécie existe numa única montanha, tornando-se geograficamente rara e susceptível de extinção se aquele habitat for destruído.
“Apesar de ter sido muito cansativo chegar a muitos dos locais, havia sempre um sentimento de antecipação e curiosidade sobre as novas espécies que se poderiam encontrar em cada sítio”, diz Marco Pie, professor e biólogo da Universidade Federal do Paraná, que liderou este projecto, citado num comunicado de imprensa da PeerJ.
Brachycephalus mariaeterezae, Brachycephalus olivaceus, Brachycephalus auroguttatus, Brachycephalus verrucosus, Brachycephalus fuscolineatus,Brachycephalus leopardos e Brachycephalus boticario são as sete novas rãs, todas do mesmo género, que vivem em altitudes entre os 450 e os 1270 metros, consoante a espécie.
Seis delas foram encontradas no estado de Santa Catarina, o penúltimo estado mais a Sul no Brasil. Apenas a Brachycephalus leopardus se encontra no estado do Paraná, que fica imediatamente a norte de Santa Catarina. Havia outras seis espécies deste género, que já tinham sido identificadas no passado, e que vivem todas no mesmo tipo de ambiente montanhoso, mas um pouco mais a norte da Brachycephalus leopardus, também no estado do Paraná.
Estas rãs vivem nas folhas caídas das florestas, onde podem ser ouvidas a coaxar. São pequeníssimas, como se pode ver pelas fotografias, por isso houve evoluções anatómicas específicas, como a redução do número de dedos das patas. Apesar de parecem vulneráveis, as suas cores vivas, como o amarelo, o laranja ou o verde – o padrão da cor é distintivo de cada espécie –, avisam os predadores da existência de um veneno na sua pele, a tetrodoxina, uma potente neurotoxina.
Os cientistas acreditam que ainda haverá mais espécies semelhantes prontas a ser descobertas. “Isto é apenas o início, especialmente porque já encontrámos mais espécies que ainda estamos a descrever”, explicou Luiz Ribeiro, do Instituto de Estudos Ambientais, em Curitiba, citado no mesmo comunicado.
No artigo, os autores avisam que estas espécies (e potencialmente muitas que ainda não foram identificadas) estão em risco: “As florestas no Sul do Brasil têm vivido distúrbios de diferentes tipos, particularmente a deflorestação (muitas vezes ilegal) para a plantação de pinheiros e o uso da floresta para alimentação do gado. (…) Acções mais incisivas por parte das agências ambientais estatais para gerir estas actividades poderão ser decisivas para a conservação [das populações de Brachycephalus] a longo prazo.”
Comments